domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Figura Paterna Ausente: consequências...

 A figura paterna ausente: conseqüências



De acordo com Benetti (2006), estudos sobre os processos familiares indicam que a qualidade da relação parental e a presença de discórdia no ambiente familiar, estão diretamente ligados à etiologia de distúrbios emocionais na criança e no adolescente. Primeiramente, identificou-se uma associação geral entre discórdia conjugal e dificuldades no ajustamento infantil considerando-se que as situações de conflito conjugal na família resultavam numa alteração das praticas educativas parentais que, por sua vez, interferiam no desenvolvimento da criança.


A questão do impacto do conflito conjugal nos processos psicológicos, cognitivos e relacionais da criança e do adolescente surgiu com maior ênfase recentemente, a partir da constatação de que a criança submetida diariamente a exposição de estresse familiar, principalmente aqueles associados com maior adversidade e violência, foram relacionados à distúrbios no desenvolvimento emocional, cognitivo, social e até alterações psicofisiológicas na criança .


Zavaschi et al (2002) esclarece que de origem grega, o termo trauma significa ferida, furar, sendo utilizado na medicina para identificar as conseqüências de uma violência externa. Freud transpôs o conceito de trauma para o plano psíquico, conferindo-lhe o significado de um choque violento capaz de romper a barreira protetora do ego, podendo acarretar perturbações duradouras sobre a organização psíquica do indivíduo. O trauma pode se referir a um único acontecimento externo ou a um acúmulo deles. Freud assinalou também o duplo destino do trauma: a) aquele que estrutura e organiza o ego, permitindo, através de eventos sucessivos, a repetição, a rememoração e a elaboração; e b) o trauma negativo, que se torna um verdadeiro entrave para o desenvolvimento do psiquismo, funcionando como um corpo estranho que impede o processo do pensar, levando em alguns casos à devastadora desorganização do ego. Assim, Freud formulou a hipótese de que o psiquismo seria estruturado a partir do patrimônio genético, modelado pela primitiva relação do bebê com seus pais, constituindo-se no que chamou de "experiências infantis". Essas experiências desempenham um papel crucial, tanto na resolução das diferentes etapas de desenvolvimento, quanto no enfrentamento das vicissitudes decorrentes de traumas. Para ele, a etiologia das neuroses também estava relacionada à qualidade desse patrimônio genético, que incluía a bagagem pré-histórica do indivíduo, acrescida de suas experiências infantis e de um fator traumático precipitante.


Ainda de acordo com os autores, Entre os fatores associados à depressão na vida adulta, encontram-se a exposição a estressores na infância, como a morte dos pais ou substitutos, as privações materna ou paterna por abandono, separações ou divórcio, entre outros. Para estes, Nos primórdios da psicanálise, Freud atribuiu às neuroses dos adultos a traumas infantis, sendo que a extensão dos danos decorrentes do trauma variava de acordo com a vulnerabilidade de cada indivíduo. A depressão ou "melancolia" seria multicausal, sendo um dos fatores concorrentes a perda de um ente querido ou representante deste.


Em artigo de Eizirik e Bergmann (2004), encontramos os seguintes dados: em classes sociais baixas, o número de crianças que vivem sem o pai biológico atinge mais de 40%; das crianças nascidas na década de 90, 55 a 60% passaram grande parte de sua vida afastadas dos pais biológicos; em 1960, o número de crianças vivendo só com a mãe era de 5 milhões, sendo que este número atinge 8 milhões em 1998, e mais de 50% dessas crianças não conhecem o pai biológico; dos pais ausentes, 26% vivem em estados diferentes das residências dos seus filhos. Os autores referem também que crianças com ausência do pai biológico têm duas vezes mais probabilidade de repetir o ano escolar, e que crianças que apresentam comportamento violento nas escolas têm 11 vezes mais chance de não viver na companhia do pai biológico do que crianças que não têm comportamento violento. Essas crianças, principalmente meninos, evidenciam maiores dificuldades nas provas finais e uma média mais baixa de leitura


Ferrari (1999 citado por Eizirick e Bergmann, 2004) contribui muito para o estudo deste assunto. Afirma que "há uma necessidade inata de filiação nos seres humanos, o que não é diferente com os filhos de mães sozinhas". O autor também diz que os filhos "têm a necessidade de saber por que seu pai partiu e de escutar isso da boca deste, e não através da interpretação da mãe".


Ferrari (1999 citado por Eizirick e Bergmann, 2004) aborda a questão dos pais substitutos, comentando que estes também podem se afastar, deixando a criança novamente com a sensação de abandono. A situação se torna mais complicada neste aspecto quando a mãe tem relacionamentos instáveis e rápidos. Além disso, há a ambivalência da criança em aceitar um substituto para o pai biológico. Outro aspecto importante é o da situação de um término de relacionamento da mãe, quando o filho pode sentir como se fosse mais uma vez culpado por isso, aumentando sua sensação de orfandade.


Este mesmo autor comenta que qualquer busca do pai pode parecer ao filho como uma traição à mãe, e também que momentos críticos da vida do filho (casamento ou nascimento de um filho, por exemplo) tornam mais forte o desejo de conhecer o genitor ausente, como "uma necessidade de fechar sua história". Diz que "por mais que as crianças não digam nada, o vazio está presente e trabalha".


Este vazio, segundo Ferrari (1999 citado por Eizirick e Bergmann, 2004), é formado pela noção das crianças de não serem amadas pelo genitor que está ausente, com uma grande desvalorização de si mesmas em conseqüência disso. Além dessa autodesvalorização, ocorrem os sentimentos de culpa "por ser uma criança má, por haver provocado a separação, por ter nascido". A criança pensa ser má por ter sido deixada. O autor coloca que isso "pode gerar reações variadas, desde tristeza e melancolia até agressividade e violência". E prossegue dizendo que "os tímidos e temerosos do exterior se fecham em si mesmos, e os extrovertidos e temerosos do interior de sua história se vingam no mundo com condutas anti-sociais".A escola teria a função de romper o cordão umbilical, sendo o momento em que a criança entra em maior contato com o mundo real. Como já mencionado pelo mesmo autor, não se sabe se já não seria tarde para isso, além de haver situações que mostram que a escola não seria suficiente para produzir a separação necessária. Segundo o autor, "os fracassos escolares e os problemas de aprendizado e de relacionamento com os outros têm como base, na maioria dos casos, situações familiares". Ferrari diz que também pode ocorrer o inverso: para agradar a mãe, com o temor de ser abandonado por esta, o filho se torna um ótimo aluno, sendo que tal "temor de abandono pela mãe pode não durar toda a vida escolar da criança". Diz que "essa identificação total com a mãe pode saturar-se com a chegada da puberdade ou da adolescência e, quebrado o encanto, iniciam-se os problemas".



Em síntese, a literatura consultada por Eizirik e Bergmann (2004), evidencia as modificações na estrutura da família contemporânea, os efeitos negativos da ausência do pai e as repercussões decorrentes dessa ausência tanto nos aspectos comportamentais quanto nas vivências emocionais relacionadas com o complexo de Édipo, produzindo variadas expressões de conflitos, defesas e sentimentos de culpa nos filhos sem pai.


Outra questão que merece ser considerada quando se trabalha a ausência paterna, é a relação entre insatisfação na relação conjugal e consequemente a existência do divórcio a presença de fatores negativos no desenvolvimento da criança, visto que não foram identificados quais aspectos específicos do processo familiar estavam relacionados aos distúrbios infantis. Nem sempre um relacionamento conjugal insatisfatório implicava em dificuldades no desenvolvimento da criança. Por este motivo Benetti (2006) realizou uma explanação sobre o tema, apresentada a seguir.


Para a autora, a segunda geração de pesquisas, surgida na última década, tinha como objetivo a identificação dos processos subjacentes aos efeitos do conflito conjugal na família procurando de forma mais específica, compreender como as crianças são afetadas pelas situações de conflito intrafamiliar. Esse entendimento fundamentou-se num modelo compreensivo mais complexo das interações familiares. Entretanto a diversidade entre as correlações encontradas, bem como a constatação de que amostras clínicas evidenciavam associações mais significativas do que estudos não clínicos, levou os pesquisadores a postularem modelos explicativos mais complexos sobre a relação entre conflito e impacto no desenvolvimento infantil (Fincham citado por Benetti, 2006). Assim os diferentes padrões de conflito conjugal refletiam não somente as características da interação entre o casal, mas também eram influenciados por questões mais amplas da vida relacional.


Dados sugerem que 60% dos filhos de divorciados casam-se com a firme disposição de nunca se divorciarem e de evitar para seus filhos o que eles sofreram. Quase todos mantêm a promessa que fizeram, 20% não conseguem resolver-se pelo casamento e vão de caso em caso, 20% estão destinados ao divórcio, casam-se, divorciam e recomeçam. Seu fatalismo os condena ao fracasso familiar, afetando de forma diferenciada o desenvolvimento infantil.


O desenvolvimento infantil da criança, bem como a consideração das circunstâncias promotoras de crescimento psicológico e as características de resiliência da criança influenciou a análise unidimensional do conflito familiar para uma compreensão multidimensional.


Situações de discórdia entre o casal manifestadas na forma de conflito conjugal podem caracterizar-se por diferentes níveis de intensidade, freqüência, conteúdo e resolução, além de serem expressas no cotidiano familiar de aberta ou encoberta. Considera-se que todo o sistema familiar envolve certo nível de conflito, sendo inclusive um aspecto positivo dentro do desenvolvimento psicológico infantil. A observação de que os adultos podem discordar e encontrar, de alguma forma, uma maneira de resolver suas dificuldades. O primeiro ponto de vista a ser destacado no constructo multidimensional do conflito conjugal e identificar quais os aspectos exercem um efeito disruptivo no processo do desenvolvimento infantil. Igualmente,são importantes as questões de quais aspectos do desenvolvimento infantil são afetados pela presença do conflito conjugal, considerando-se a adaptação geral da criança, o desenvolvimento emocional, cognitivo e a esfera comportamental( Cummings citado por Benetti, 2006).


A exposição da criança a episódios constantes de disputa entre o casal como forma de relacionamento familiar é um fator determinante de estresse. Conflitos freqüentes geram respostas emocionais intensas por parte da criança, que podem manifestar-se por meio de condutas agressivas ou depressivas. Crianças expostas a situações de conflito conjugal apresentam maior incidência de sintomas de ansiedade, agressividade, distúrbios de conduta e depressão.


A intensidade da expressão dos conflitos é variada lembrando que tem um limite de conversação entre os casais, mas neste contexto nos referimos à situações onde duas pessoas adultas se desrespeitam consecutivamente com palavras e gestos. Toda relação sofre variações desde uma simples disputa até episódios que envolvem agressão e violência física ou emocional. Apesar da violência física causar maiores danos psicológicos na criança, episódios de agressões verbais e emocionais tem efeitos tão negativos quanto os físicos e foram relacionados à ocorrência tanto de problemas de internalização como exteriorização(Grech & Fincham citador por Benetti, 2006). Também a intensidade dos episódios de conflito entre o casal está associada a uma freqüência das situações de conflito.


As relações entre pais e filhos são fundamentais no processo de desenvolvimento, porém, o sistema familiar como um todo constitui em um contexto relacional importante para o desenvolvimento da criança e do adolescente, no qual as relações entre pais e filhos são afetadas pela personalidade dos pais e experiência emocional de bem- estar, pelas características da própria criança, fontes ambientais e contextuais de estresse. Em geral os conflitos entre o casal ocasionam em deterioração dessas relações entre pais e filhos.


O que podemos dizer é que homens e mulheres teram muito a pensar na nova figura Partena. O novo Homem, o novo cidadão e o novo milênnio...
Psic; Mestranda e doutoranda em Psicologia da Educação.
Laine Froza.





2 comentários:

  1. Obrigada amigos por passar por aqui...Deixe seu recado e interesses que eu procurarei escrever diratamento para o público. Que seja essa uma veia de acesso a informação...
    beijos

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  2. Eu é quem sou grata a você pelas informações prestadas. Estive aqui em busca de fundamentos para a minha teoria pessoal sobre a importância da figura paterna na vida da criança. Voltarei mais vezes. Parabéns pela pesquisa. Um abraço.

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